terça-feira, 5 de março de 2013

Entrevista com Marcello Kaskadura. Sub Existência 25 de Punk Rock e luta no Underground.


O Sub-Existência, foi formado em 1986, na zona leste de São Paulo,desde o inicio com a proposta de tocar um punk rock direto e bem trabalhado com letras de protesto e atitude libertaria a banda  segue até hoje com suas atitudes e sua luta pelos palcos underground,e para comemorar 25 anos de atividades eles lançaram o álbum "Do Chaos a Utopia" no final do ano passado, conversamos com o baterista Marcello Kaskadura, em um papo descontraído e revelador que nos contou a postura da banda e suas opiniões sobre vários assuntos.
Confira abaixo;




1-(MPF):O Sub Existência é sem duvida nenhuma uma das bandas mais antigas da cena Punk em atividade na zona leste, contemos um pouco do inicio da carreira de vocês nos anos 80, como era conviver no meio Punk nesta época, sem duvidas
nenhuma era muito mais hostil do que os dias de hoje ?

(Marcello Kaskadura):não fiz parte da primeira formação da banda, mas sei que as coisas eram bem complicadas porque também vivi a cena da época.
Minha opinião sobre a diferença de “dificuldades” do final dos anos 80 para hoje vai de encontro com a própria história do país.
Vivíamos uma abertura política com uma pesada sombra da ditadura que mal compreendíamos.
A juventude da época tinha essa necessidade de ter um futuro mais livre, diferente de nossos pais e acredito que nesse contexto a música aparece como um canal cultural para expressar esses sentimentos.
Não foi exclusividade do Punk.
O Rock em geral começa a se propagar mais nessa década. As bandas de Rock que fizeram a cena dos anos 70 por mais excelência que tinham começam a ser ofuscadas por vários motivos e que hoje são cultuadas por merecimento.
Uma nova geração apareceu naturalmente como em outros países. A diferença básica é que o Punk foi algo mais impactante, pelo visual, pela temática, pela agressividade sonora e minimalista, e é claro, a pobreza.
Isso tudo promove uma reação óbvia das autoridades que também não entendiam o que era essa cena. Comunista, anarquista, nazista, tudo foi uma confusão necessária para o Punk se fortalecer se não como um movimento, mas sem dúvida como uma cena e um estilo de vida que veio para ficar.
A hostilidade que você se referiu na pergunta era recíproca, e é assim até hoje.
Não tem como “consertar” ou moralizar o Punk, isso levaria a um desencontro da idéia básica. Quero acreditar hoje que entre erros e acertos, essas décadas sirvam para amadurecer algumas atitudes desnecessárias.


2-(MPF):Recentemente vocês lançaram O álbum “Do Kaos à Utopia” em comemoração aos 25 anos de carreira da banda, alem deste material, vocês pretendem fazer alguma Gig ou Fest em comemoração ao aniversário como algumas outras bandas já fizeram?

(Marcello Kaskadura):Sim, já fizemos alguns shows de lançamento e comemoração. Temos várias datas agendadas e a ideia principal é a divulgação do CD.
Como a maioria das bandas underground,  nós também sofremos muito para lançar esse trabalho, claro que me refiro à questão financeira.
O que eu posso dizer é que o CD está sendo bem aceito, fizemos o melhor tentando inovar um pouco sem perder as características que formam uma banda Punk Rock.




3-(MPF):A cena Punk nos anos 80 e inicio dos anos 90, fez emergir centenas de bandas por toda a cidade de São Paulo, porem ao longo dos anos varias delas foram desistindo e acabaram por encerar suas atividades, muitas por falta de incentivo da própria cena, vocês concordam que há muita desunião tanto no underground em geral quanto
especificamente no cenário Punk?
Muitas bandas se fecham em seu mundinho e deixam de cooperar e compartilhar suas influencias e experiências com as demais, vocês concordam com isto?


(Marcello Kaskadura):Particularmente sim.
Essa desunião, “mundinho fechado”, “panelinhas” nunca trouxeram nenhum benefício para uma banda underground.
Acho uma estupidez quem traça esse caminho, principalmente para uma banda Punk que “deveria” batalhar e valorizar a sua cena.
Existe no underground o romantismo e a realidade, não serei hipócrita aqui dizendo que tudo é perfeito enquanto puder enumerar mais erros que acertos.
O apoio referido raramente acontece, a cena Punk é inchada e feita por poucos.
Os velhos e asquerosos vícios que temos de não pagar cinco reais para assistir seis, às vezes sete bandas quando não, um festival inteiro; de depredar o local e consequentemente perde-lo; das brigas infundadas que além da violência desnecessária erra muitas vezes o alvo real e enfim, é o velho e conhecido tiro no pé.
As bandas acabam por vários motivos, mas eu acredito que o principal é a completa falta de foco. Primeiro deve-se entender que além de Punk, a pessoa que toca um instrumento musical e tem algo que acha importante dizer, deveria aproveitar a idéia coletiva para manifestar seu trabalho e sua opinião. Tem também o peso do fator financeiro mas, acredito que quem quer fazer dá um jeito.


4-(MPF):O Espaço Cultural que havia em São Matheus abriu espaço para varias bandas Punk tocarem e mostrarem seu trabalho, infelizmente o local foi fechado devido a vários problemas, depois disso houve uma certa lacuna em se tratando de espaço para as bandas Punks tocarem aqui na Zona Leste, fale-nos um pouco a respeito deste assunto?

(Marcello Kaskadura):Pois é, toquei várias vezes nesse local e esse assunto é um pouco complicado, porque centros e espaços culturais deveriam ter prioridade de incentivo dos governos.
Bairrismo à parte, a zona leste de São Paulo foi sempre um grande celeiro de bandas, público e coletivos, mas em contraponto também sofreu por ser uma região pobre e distante do que acontecia.
No final dos anos 90 eu tocava na Cidade Tiradentes, Itaquera, São Miguel Paulista e São Matheus em Gigs lotadas. Pequenos bares, lava - rápidos e até em calçadas eram palco dessa cena. Conseguíamos trazer bandas de outras regiões e até de outros estados por um tempo.
Mas vamos admitir que a região mais populosa do estado não tenha público suficiente para manter sua própria cena?
Ou seja, as pessoas deixam de freqüentar as Gigs próximas de casa e vão para as casas de show da região central.
É claro que devemos lembrar que isso se deve também à qualidade dos eventos, à segurança e à opção de divertimento de cada um.
Hoje se vê por alguns a vontade resgatar o cenário local. Temos alguns bares e coletivos que promovem às duras penas esse levante.
Mas o resultado dessa força de vontade depende muito do entendimento do público.


5-(MPF):A cena Punk sempre foi muito mal interpretada pela sociedade que nunca compreendeu seu verdadeiro objetivo, vocês do Sub Existência já sofreram preconceito por parte da sociedade em se tratando disso?

(Marcello Kaskadura):Não exatamente.
Do ponto de vista da sociedade não acredito que é preconceito, porque a sociedade de modo geral nem sabe o que é Punk e não sabendo não tem obrigação de compreender.
É a ignorância na sua real interpretação, se ignora na pior das hipóteses discrimina.
Agora, partes específicas da sociedade que entendem e mesmo assim promovem “caça as bruxas” estão sendo de fato preconceituosas.
Isso é bem perigoso quando parte das grandes mídias, porque elas podem em pouco tempo enraizar o preconceito na cabeça das pessoas com o agravante de que hoje em dia com as redes sociais em alta, isso se espalha como um vírus.
Muita gente nova não tem a informação exata do que é Punk ou qualquer outro movimento comportamental, então acredito que a primeira experiência terá um peso fundamental na opinião, positiva ou não.


6-(MPF):Atualmente vocês estão divulgando seu último álbum “Do Kaos à Utopia”, depois disso chegaram a compor algo? Se compuseram existem planos para um novo material ?

(Marcello Kaskadura):Não na verdade, por enquanto a concentração total é na divulgação desse CD.
Provavelmente devem sair faixas em coletâneas no decorrer do ano, como no Chaos Day por exemplo. Mas por enquanto a idéia é tocar e comemorar esse trabalho, depois desenvolver um seguimento com novos sons.


7-(MPF):Atualmente a cena está até mais prolifera falando de modo geral, mesmo rolando muitos Fests e Gigs, ainda há muito que fazer para melhorarmos as coisas em todos os sentidos.
Na opinião de vocês hoje, quais as maiores dificuldades enfrentam para prosseguirem a sua carreira e manterem a banda unida e sempre ativa?

(Marcello Kaskadura):As dificuldades sempre foram as mesmas.
Não somos músicos profissionais nem vivemos disso, mas temos que tirar leite de pedra pra continuar. Temos que gostar de fazer um som, de escrever uma letra, de dar uma idéia positiva pro pessoal para que isso transforme as dificuldades em ânimo criativo.
Nesse momento do CD estamos nos cobrando mais, cobrando mais também dos espaços, da qualidade, o que gera também mais desgaste, mas se não matar vai fortalecer!!!!

8-(MPF):Durante os mais de 30 anos da historia do Punk Rock sempre existiram muitos grupos e gangues, uns ajudaram na cena outros só atrapalharam causando rivalidades, brigas e até mortes. Qual a relação que o Sub Existência teve ou tem com algumas gangues, vocês já participaram de alguma delas?

(Marcello Kaskadura):É um assunto bem delicado, mas importante comentar.
A banda Sub Existência nunca fez parte de nenhuma gangue e também nunca tivemos problemas com nenhuma delas.
Todos nós sabemos que dentro da cena Punk no mundo todo elas existem, não é exclusividade do Brasil.
Eu não sou a favor da violência gratuita, mas temos que analisar o que acontece com as pessoas, são muitos “por quês”.
O ser humano por natureza tem esse ímpeto grupal, e em regiões mais pobres a tendência aumenta, até mesmo para se proteger.
Acredito que uma gangue ou um grupo nasça nesses momentos, nessa somatória de problemas sociais e o que vai agravar ou amenizar, serão as opiniões que elas vão seguir.
Não cabe a nós incentivar ou simplesmente criticar, seria hipocrisia porque vivemos em um mundo de competição tribal.
Sobre criminalidade creio que quem comete um crime naturalmente deveria pagar por ele, fazendo parte de uma gangue ou não.





9-(MPF):Atualmente vocês participam de algum grupo de estudos ou produzem fanzines Punks, vocês estão presentes em manifestações e ativismos em geral ou se consideram uma banda Punk apolítica e preferem não se comprometer com estas questões?

(Marcello Kaskadura):Eu publiquei fanzines por quase 10 anos e confesso que desanimei, mas gosto muito da ideia  ainda acompanho como posso as novas produções. Apesar da internet, eles ainda resistem em papel, isso é bem legal. Fica a dica pro pessoal pesquisar sobre a Fanzinada, evento bastante significativo.
Sobre a atividade política da banda, creio que é praticamente impossível manter uma banda Punk sem ter influência sócio-política em algum momento.
Toda banda Punk já se dedicou de certa forma ao anarquismo, algumas mais radicalmente outras menos. No caso do Sub Existência a banda tem sua veia libertária, já participou e até promoveu manifestações, só que temos que levar em consideração que não somos mais tão ingênuos.
É nítido que muitas ações não funcionam como está nos livros, o que defendemos é que cada um faça a sua parte de maneira que contribua para uma sociedade melhor, seja isso em grandes manifestações ou na pequena vila em que mora.
A pretensão de que vamos mudar o mundo imediatamente é quase adolescente, a coisa leva tempo. Hoje em dia eu defendo o protesto consciente, feito com inteligência e baseado em algo palpável.

10-(MPF):Vocês fizeram um show no ano passado ao lado do Lobotomia e do Invasores de Cérebro e outras bandas, este fest foi realizado na zona leste na Cohab José Bonifácio. Qual a importância para vocês participarem e ajudarem na realização destes eventos na periferia, e isto vem ocorrendo com frequência?

(Marcello Kaskadura):Esse evento é feito pelo pessoal da Reação Arte e Cultura na Cohab em Itaquera, o festival chama-se Reação Underground.
Esse ano rola a terceira edição e serão dois dias de festival, onde tocaremos também ao lado do Cólera, da banda Gricerina, Calibre 12 entre outras. É um evento de cunho beneficente que procura arrecadar alimentos, roupas e brinquedos.
É muito importante que exista, mesmo que poucas, pessoas com iniciativa desse tipo para levantar a cena local. Trazer bandas de nome e dar espaço para bandas novas, tudo feito com apoio mútuo.
Nós também organizamos algumas Gigs pela zona leste tentando trazer sempre um pessoal de outras regiões da cidade para tocar.



11-(MPF):Como esta a recepção por parte da galera quanto ao lançamento do álbum “Do Kaos à Utopia”?

(Marcello Kaskadura):Muito boa.
Quase zeramos as críticas negativas que recebemos desse trabalho, para ser sincero, umas duas ou três pessoas acharam um pouco pesado. (rs)
Não da pra agradar todo mundo e nem é essa a intenção.
Mas a verdade é que tentamos um trabalho diferente para o Punk convencional. Todos nós entramos em estúdio muito livres para desenvolver os sons.
A inserção de pedal duplo, gaita e teclado em algumas faixas deram um diferencial bacana.
Temos regravações de sons conhecidos da banda como Fogo Cruzado e Terceiro Mundo, músicas inéditas e uma versão de Garageland (Clash) que adaptamos uma letra em português minha e do Walter Detrito (guitarra e voz) chamada Vida de Garagem.
Em cima da idéia da letra desse som iremos trabalhar muita coisa, vídeo clipe, festivais etc.


12-(MPF):Conte-nos como foi o processo de gravação do álbum mais recente de vocês e em quanto tempo ele foi gravado e mixado, conte-nos um pouco de como foi ver “Do Kaos à Utopia” ser lançado imagino que já é um motivo de muito orgulho tê-lo lançado em comemoração aos 25 anos de carreira?

(Marcello Kaskadura):Cara foi uma parada muito bacana.
Um misto de alegria e sofrimento porque a falta de grana é bem relevante nesses momentos.
Nós gravamos no Shukster Estúdio em Itaquera, e tenho agradecer aqui a dedicação do Marcos Soares na co-produção.
Acho que levamos uns dois meses, porque íamos uma vez por semana apenas, não lembro mais. (rs)
O certo é que tínhamos sempre a certeza que o CD ficaria bom.
O momento era bem bacana, nós gravávamos depois ficávamos nos bares próximos tomando cerveja e trocando idéia. Isso aproximou a banda e ajudou durante as gravações.
Outra coisa bacana foram as participações no CD, tivemos os vocais do Barata (DZK), Deedy (We are the Clash), Erik (Portas Negras e Resistência Metal), Heder (Cannibal Coffee e Sentenced Soil), Alex e o Abutre (Subviventes), Hugo Montanha (90 em Chamas) e Jorge Intifada (Crônicas Marcianas) que gravou o teclado e a gaita.
Daí percebe-se a ideia de misturar e unir tendências e estilos diferentes dentro de um disco Punk.
A falta de modéstia me obriga a dizer que é um dos melhores discos Punks que foram lançados nos últimos anos e que vem acrescentar de forma positiva à cena da Zona Leste de São Paulo.
Eu sou na verdade o primeiro fã do nosso próprio trabalho.



13-(MPF):Para finalizarmos deixe uma mensagem a todos os Punks, Headbangers e a todos que estão envolvidos com a cena direta ou indiretamente?

(Marcello Kaskadura)Primeiro agradecer a você a oportunidade de expor algumas idéias e parabenizar o espaço.
Muito obrigado mesmo.
A mensagem ideal nesse momento, contrariando Napoleão Bonaparte é que unindo se conquista.
Um grande abraço!


Formação:

Walter Detrito:Guitarra/Vocal
Laadu:Baixo
Marcello Kaskadura:Bateria





Links Relacionados:

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https://subexistencia.bandcamp.com/

sub_existencia@ig.com.br

walterferreiragomes@yahoo.com.br

Um comentário:

  1. Muito obrigado pelo oportunidade de expor as idéias e divulgar a banda.Força aí!!!!

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