A existência do Headhunter D.C. está praticamente ligada à história do Death Metal, pois a banda faz parte do desenvolvimento inicial, propagação e manutenção do estilo em seu estado mais puro mundo a fora. Esse verdadeiro culto do Metal da Morte brasileiro foi formado no outono de 1987 pelo guitarrista Paulo Lisboa, em Salvador, Bahia, Nordeste do Brasil, após a dissolução de sua primeira banda, o Túmulo, e durante seu ¼ de século de ininterruptas atividades no Underground, vários integrantes passaram pelo grupo, todos contribuindo solidamente para que o Headhunter D.C. se tornasse o que é hoje: um sábio conhecedor do segredo da forja perfeita, extraindo das entranhas da Morte o mais genuíno Death Metal.
“Hell is Here”, demo tape 1989, “Born...Suffer...Die”, o debut LP, de 1991 (relançado em CD em 2002), “Punishment At Dawn”, LP, de 93 (relançado em CD em 2011), “Promo Tape ’96”, “…And The Sky Turns To Black… (the dark age has come)”, CD/Picture LP, de 2000 (posteriormente relançado em 2001 e 2005), “Brazilian Deathkult Live Violence...”, live tape, de 2002, “...In Deathmetallic Brotherhood” split 10” MLP, de 2007, “God’s Spreading Cancer…”, CD/LP, também de 2007, além das usuais gravações de ensaios espalhados na cena no início da carreira e mais posteriormente diversas participações em compilações nacionais e internacionais, são as oferendas do Culto da Morte rumo à merecida conquista de um status de banda cult dentro do universo do verdadeiro Death Metal Underground atual – até que o fim do mundo é finalmente anunciado, e com ele sua trilha sonora oficial...
Emoldurado em negras e densas nuvens, 2012 teve o seu álbum definitivo: o eterno Culto da Morte emergiu das sombras com esse que é o seu mais impactante trabalho em 25 anos de uma irrepreensível jornada. Se a história desses mestres brasileiros do blasfemo e obscuro Death Metal sempre surpreendeu pela autenticidade, lealdade, genialidade e pura brutalidade mórbida, é em “...In Unholy Mourning...” que o espírito aprisionado do desespero, do drama e da desesperança ascende e alcança a sua mais perfeita e maldita forma, tão almejada por muitos, mas alcançada apenas por poucos, através de funestas e taciturnas melodias, desencadeando horrores e abominações sônicas... O que se sente nessa obra majestosa é a imponente vitória do real sentimento anticristão traduzida em terror musical, como uma escultura complexamente demoníaca que esperou duas décadas e meia para ganhar vida em forma de morte... de Metal da Morte!
TUDO AQUI É IMPIEDOSO! A grande orgia de notas e estruturas decadentes, unidas a timbres abismais, dramáticas vociferações e uma atmosfera assombrosamente carregada tem nesse registro o seu ápice. Ouvir “...IUM...” é como uma viagem rumo a antigos cemitérios de nostalgia, onde monumentos fúnebres de Deus, vazios e sem uso, fazem ecoar réquiens para os desgraçados e preces negras para Aquele que já se foi... Onde toda a fé é banida e toda salvação está perdida... São 10 mórbidas oferendas de pecado e heresia em forma de blasfemo e brutalizante Unholy Death Metal da mais alta classe, criando assim um novo ciclo no universo de trevas do Culto da Morte... A capa é assinada pelo renomado artista espanhol Mr. Juanjo Castellano, que traduziu fielmente através de um magnífico trabalho todo o conceito por trás do título do álbum. Uma verdadeira obra-prima da morte!
Com mais um “adiamento” do fim do mundo, em 2013 o Headhunter D.C. anuncia o seu próprio conceito de Armagedom em forma de uma primeiríssima turnê pelo Velho Mundo, abrangendo, entre os meses de abril e maio, 9 países em 18 datas, a “...In Unholy Mourning for God... European Tour 2013”. No mesmo ano, a banda tem reeditado o seu lendário show de 1995 na cidade de Itabuna, Bahia, inicialmente lançado em cassete em 2002 e agora disponibilizado em CD sob o título “Brazilian Deathkult Live Violence...”, ao mesmo tempo em que também tem os seus álbuns de 2000 e 2007 relançados em edições especialmente remasterizadas, com capas extras em slipcase e faixas bônus. O início de 2014 é marcado pelo tão esperado lançamento de “...IUM...” na Europa pelo selo alemão Evil Spell Records contando com um cover do Mortem como bonus track exclusivo.
Entrevistamos Sergio Baloff (Vocalista) da banda que nós conta um pouco sobre as historias da banda e os planos para o futuro do Headhunter dc.
1- (MPF) : O Headhunter DC é o que podemos classificar como uma banda "Cult" de nossa cena
de Death Metal, quebrou paradigmas, mostrou-se fiel em tempos que muitos estavam mudando seu estilo para serem aceitos pela mídia, gostaria que fizessem um paralelo sobre estes pontos, parece que nadar contra a maré é algo que o Headhunter DC faz constantemente?
(Sergio Baloff ):Fico contente em ler o termo "nadar (ou "remar") contra a maré" aqui, é algo que eu falo constantemente e que realmente sintetiza um pouco esses quase 27 anos de estrada, pois é o que temos feito desde que surgimos entre 86 e 87. Sempre fomos fortes o bastante para honrar nossa identidade e personalidade e jamais nos deixar levar pelos vai-e-vêm das modas musicais dentro da cena Metal, e isso é algo de que temos um orgulho enorme. Essas mesmas bandas que mudaram seu estilo para se enquadrarem às diferentes tendências que reinaram em diferentes épocas na cena são as mesmas que hoje tentam uma "volta às origens" e ainda são recebidas de braços abertos por muitos que, muitas vezes, não dão o mesmo suporte às bandas que cruzaram 2, 3 décadas com suas raízes musicais e ideológicas intactas. É a chamada troca de valores na cena, onde HONESTIDADE e FIDELIDADE já não são qualidades primordiais dentro do Metal como em outrora. Sinal dos tempos...
2- (MPF): A demo " Hell is Here" (89) foi um dos primeiros registros do Headhunter DC, sendo inclusive o primeiro material de uma banda de Death Metal do Norte/Nordeste a ser lançado, gostaria de saber qual a importância desta demo para vocês?
(Sergio Baloff ):"Hell is Here" foi o início de tudo de uma forma mais abrangente, apesar de que banda já havia sido formada mais de 2 anos antes, além de ser mais uma mostra de pioneirismo do Headhunter D.C., pois além do que você sabiamente citou aí, trata-se da primeira demo de Death Metal do Norte/Nordeste gravada de forma profissional, em estúdio, pistas separadas etc. Isso em 89 era um verdadeiro feito! Resumindo: "HIH" é de suma importância para a história da banda a para a história do próprio movimento Death Metal do Norte/Nordeste e, por quê não, do Brasil como num todo.
3 - (MPF): O último álbum "...In Unholy Mourning..." vem rendendo ótimos frutos para a banda, após ser lançado em solo nacional está sendo lançado pelo selo alemão Evil Spell Records para toda a Europa, gostaria de saber com está a receptividade dos headbangers ao redor do mundo por este trabalho?
(Sergio Baloff ) : A edição nacional do álbum via Mutilation tem rodado razoavelmente bem lá fora através de alguns selos e distros, mas agora o mesmo obteve um lançamento oficial na Europa via Evil Spell (através do qual já havíamos lançado o "GSC..." em vinil em 2007), e ainda que não se trate de um selo grande, já tem um certo respaldo na cena europeia e tem feito um trampo promocional muito bom, apesar de só ter sido lançado há pouco mais de um mês. A receptividade tem sido muito boa, muita gente estava aguardando ansiosamente por essa edição européia, já que é bem caro exportar discos daqui do Brasil, além do que diversos reviews positivos já têm saído em diferentes publicações, não só naquele continente, mas também fora dele. Ainda estamos a todo vapor com a campanha de "...In Unholy Mourning..."!
4 - (MPF) : Ainda falando do último registro, no encarte vemos que este álbum foi praticamente lapidado tanto pela dedicação de todos da banda quanto pela "obsessão" positiva de Sérgio Baloff em fazer um álbum realmente agressivo, com cara de old school, mas com uma
roupagem diferente, conte-nos um pouco sobre este álbum e seus detalhes?
(Sergio Baloff ): Cara, ainda que eu esteja muito, mas muito longe da perfeição (e nem esse é o meu objetivo), eu sou um perfeccionista por natureza, e tudo relacionado ao Headhunter Death Cult eu quero sempre que saia da melhor forma possível. Assim como rolou com o "God's Spreading Cancer...", cujo ínterim desde o "...And The Sky..." até o seu lançamento durou 7 anos, o "...IUM...", pelo seu também longo tempo de espera (5 anos), merecia uma produção legal justamente pra compensar todo o tempo de espera por parte dos fãs e admiradores da banda, daí a ideia do lançamento em digipack de luxo, com dois encartes, patch importado e tal, mas nada disso teria sentido se as músicas não fossem feitas com o sentimento e inspiração apropriados, e isso é o mais importante para nós. Acho que a longa espera mais uma vez valeu a pena.
5-(MPF) : Recentemente em uma entrevista achei engraçado você (Sérgio Baloff) afirmar que o fato do Metal ter se tornado algo comum demais te deixava nervoso, hoje compreendo parte disso vendo algumas posturas infantis dos muitos headbangers... em todo caso, acredito que a cena está ficando cada dia mais forte, isso lhe deixa satisfeito?
(Sergio Baloff ): Isso depende muito do ponto de vista de cada um. Ao mesmo tempo que você acha que a cena está ficando cada vez mais forte, outra pessoa pode achar que a mesma está descendo uma enorme ladeira de forma totalmente desgovernada. De qualquer forma, temos que ver sempre os dois lados da moeda, os prós e os contras dentro da cena para assim sempre termos algum discernimento para comentarmos a respeito ou mesmo agirmos de forma consciente. Em todo caso, "nervoso" ainda é uma palavra branda para se referir ao sentimento que certas atitudes débeis dentro do atual Metal Underground me causam. "Nojo" seria bem mais apropriado...
6-(MPF): O primeiro álbum de vocês, "Born...Suffer...Die" (91), foi lançado pela Cogumelo Records, umas das gravadoras mais importantes pro Metal nacional em sua história, acredito que tenha feito uma enorme diferença trabalhar com um engenheiro de som que entendesse de Heavy Metal, o que não ocorreu nas demos anteriores?
(Sergio Baloff ): Engenheiros de som que realmente entendam e tenham experiência com Heavy Metal ainda são muito raros no Brasil nos dias atuais, então imagine isso há 25 anos... Mas felizmente esse quadro tem mudado consideravelmente, até porque o leque de possibilidades de informação é infinitamente maior atualmente, e sendo assim trabalhos com grande qualidade de gravação tem sido cada vez mais comuns. Trabalhar com Gauguin em 91 foi uma grande experiência para nós, o cara havia produzido algumas das maiores e mais influentes bandas de Metal do país na época, assinou alguns álbuns seminais do Death/Thrash Metal brasileiro, então aquilo pra gente foi de uma importância grandiosa.
7-(MPF): Como vocês se sentiam sendo uma banda da Bahia trabalhando ao lado de bandas mineiras como Sarcófago, Sepultura, Chakal, enfim, bandas que eram idolatradas em sua cena local e fora dela também, como era conviver com eles, haviam uma cumplicidade entre as bandas ou não, qual era o relacionamento do Headhunter DC com as demais bandas mineiras?
(Sergio Baloff ):Quando entramos pra Cogumelo o Sepultura já havia lançado dois álbuns pela Roadrunner e já era um sucesso mundial fora de seu selo de origem. O contato que tivemos com eles foi aqui em Salvador, quando abrimos o show deles durante a Arise World Tour, um dia antes de viajarmos para Belo Horizonte para gravarmos o "Born...Suffer...Die". As bandas as quais se tornaram grandes aliadas nossas durante o tempo que estivemos na Cogumelo (incluindo aí o período em que moramos na capital mineira, em 93) e que também faziam parte do selo foram Chakal, Overdose, Impurity, LouCyfer e Calvary Death - não esquecendo do Pathologic Noise e Lustful, que viriam a fazer parte do selo anos mais tarde. Felizmente ainda pegamos um fudido período da cena de BH e todas essas bandas citadas – entre outras que ainda estavam começando – nos deram um importante suporte para que nos adaptássemos bem na cidade naquele período. Para nós foi uma honra termos feito parte do selo (apesar de todos os pesares) e da cena que foi o berço do Death Metal brasileiro. "A Legion Of Demons, Born From The Boundaries Of Death"...
8-(MPF):Muita gente critica o Metal nacional sem saber que dispomos de bandas seminais, verdadeiras divisoras de águas na música pesada que influenciaram diversas bandas pelo mundo afora tais como Sepultura, Sacófago, Vulcano, Mystifier, Headhunter DC e Krisiun , se fôssemos traçar um paralelo comparando todas as bandas citadas acima muitas outras para chegarmos a uma sonoridade de "Brazilian Death Metal" ou Brazilian Heavy metal", como você compararia a sonoridade das bandas nacionais para determinar um estilo só nosso de se fazer Metal?
(Sergio Baloff ):Recentemente respondi uma pergunta sobre esse mesmo tópico, e nela eu havia dito que acho importante essa coisa do "typical Brazilian sound" para se referir ao Metal feito aqui no Brasil como os europeus, por exemplo, costumam mencionar, pois mostra que sempre tivemos uma identidade e personalidade próprias para fazermos Metal Extremo, ainda que isso nem sempre reflita 100% da realidade das bandas nacionais. Digo isso porque geralmente essa especificação é dada para aquelas bandas com uma sonoridade mais, digamos, "raw" e satanicamente caótica como nos primeiríssimos materiais do Sarcófago (ex: SexTrash, Expulser, Mystifier, LouCyfer) e nós, por exemplo, nunca seguimos essa linha. Acho que, se tivermos que mencionar alguma banda nacional como influência direta em nosso som, essa banda seria mesmo o Sepultura no "Morbid Visions", mas ainda assim eu prefiro absorver esse "rótulo" (palavra feia, mas às vezes necessária) ou seja lá como queira, como uma identificação de um modo próprio de se fazer Death/Black/Thrash Metal num geral com a fúria que provém de nossa realidade, assim como o "Swedish Death Metal", ou o "Florida's Death Metal ou ainda o Thrash da Bay Area americana. De qualquer forma, essas bandas que você citou, juntamente com outras não menos importantes, ajudaram a moldar o Metal Extremo brasileiro, uma verdadeira escola para incontáveis bandas mundo a fora.
9-(MPF) :O Headhunter DC sempre foi uma banda que sempre esteve na estrada, mesmo compondo ou lançado materiais vocês sempre gostam de estar na estrada, durante estes 25 anos de estrada vocês já passaram por quais tipos de situações inusitadas?
(Sergio Baloff ): Putz cara, situações inusitadas são o que não faltam nesses longos anos de estrada, algumas hilárias, outras bizarras e algumas até beirando a tragédia, haha!!! São muitas para lembrar aqui! Talvez algum dia contemos essas experiências num documentário ou num livro. Até lá, 'The Madness continues'...
10-(MPF) : Quando podemos estar conferindo um show de vocês aqui na capital de São Paulo?
(Sergio Baloff ): Tocar em São Paulo é sempre um prazer fudido, seja na capital ou no interior! Estamos planejando uma mini tour pelo estado pra esse ano de 2014, cujas datas ainda estão sendo definidas e serão divulgadas logo! Espero vê-los, maníacos de SP, nas filas da frente o mais breve possível!!!
11-(MPF): O advento da internet facilitou muito a comunicação entre as pessoas,
porém banalizou muito as mesmas. Hoje um garoto consegue baixar a discografia de uma banda em segundos, muitas bandas estão lançando seus materiais em vinil para escapar desta febre de downloads, vocês tem planos de lançar "...In Unholy Mourning..." e os futuros materiais neste formato ?
(Sergio Baloff ) : Sim, obviamente. Como costumo dizer, lançar nossos materiais em vinil é algo bem natural, já que quando começamos a lançar álbuns essa era a mídia disponível, juntamente com o cassete, então não trata-se (apenas) de uma forma de conter o downloading, mas sim de manter uma tradição que para nós é primordial. E a propósito, "...In Unholy Mourning..." está agendado para sair em vinil pela Evil Spell Records em maio desse ano. Aguardem!!!
12-(MPF): Deixem uma mensagem para os Headbangers que seguem a banda...
(Sergio Baloff ): DEATH METAL PELA PAIXÃO E NÃO PELA MODA!!! Grato pelo suporte de todos e continuem seguindo o Culto! ALL HAIL!!!!!!!!!
puredeathcult@hotmail.com
www.myspace.com/headhunterdc
www.facebook.com/headhunterdeathcult
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