terça-feira, 12 de outubro de 2021

Varney : Lança "Ideal", um álbum enigmático e conceitual




A banda fluminense Varney lançou na última sexta o disco conceitual "Ideal", seu terceiro álbum de estúdio. A banda está disponível para entrevistas.


Ouça: https://open.spotify.com/album/4TUQN0g6nTUugVa8GDgxdp

Assista aos clipes:

Ideal: 






Futuros que acabei de escrever: https://www.youtube.com/watch?v=-5In7xtncgs&ab_channel=WarnerMusicBrasil

Quem se afoga: https://www.youtube.com/watch?v=xa6Ormr4VIQ&ab_channel=WarnerMusicBrasil


Segue release. No final, um faixa-a-faixa com comentários da banda.


Varney lança "Ideal", um álbum enigmático e conceitual


A Varney lança seu terceiro álbum, “Ideal”, depois de ter lançado os singles “Futuros que acabei de escrever”, “Ideal” e “Quem se afoga”. Lançado em 8 de outubro, ele teve produção da própria banda, que gravou em “home office” cada uma das suas partes, em decorrência da pandemia. O lançamento é feito pelo selo Caravela, com distribuição da Warner Music.




Ouça "Ideal" no Spotify: https://open.spotify.com/album/4TUQN0g6nTUugVa8GDgxdp

O terceiro lançamento da Varney segue sua evolução musical, adicionando elementos que trazem muito de indie rock, mas flertando ainda com elementos do industrial e do experimental para trazer um álbum cheio de camadas que podem ser descobertas a cada ouvida.

“Nós sempre temos como objetivo criar músicas que funcionem para uma ouvida no dia a dia, com melodias e elementos que sejam cativantes, mas que também tenham uma profundidade maior a ser explorada, tanto a nível de arranjos quando a nivel de letras”, diz Thiago Corrêa, vocalista da banda. 

Fica evidente que a composição feita fora das salas dos estúdios traz características diferentes à sonoridade da Varney. As guitarras mais ríspidas de “Fantasma” (2016) perderam um pouco do seu protagonismo em “Ideal”, que teve muitas músicas que tiveram seu ponto de partida nos pianos e sintetizadores.

“Quando pensamos a história que esse álbum deveria contar, pensamos que a linguagem deveria ser também diferenciada. Por isso, usamos muitas programações pra criar o clima que o álbum passa. Nós literalmente usamos os softwares como instrumentos musicais e não nos limitamos a criar músicas apenas com guitarra, baixo e bateria”, diz Bernardo Arenari, que toca baixo e teclas na banda.


Ouça "Ideal" no Spotify: https://open.spotify.com/album/4TUQN0g6nTUugVa8GDgxdp

Assista aos clipes:

Ideal




Futuros que acabei de escrever







Quem se afoga








FAIXA-A-FAIXA - com comentários da banda

“Ideal” abre com “1979”, e já nos desperta para o fato de haver um enigma dentro do disco, algo que se passa no fim da década de 1970 talvez. A introdução começa com frequências graves seguidas de uma melodia que nos remete a antigos filmes distópicos como por exemplo “Terminator 2” ou mesmo “Blade Runner”. “Me deixa esquecer” vem logo a seguir com sua batida ritmada e dançante a lá The Killers com camadas e camadas de sintetizadores e guitarras dedilhadas.

“Em 'Ideal' nós pensamos as guitarras com um objetivo diferente. Antes elas funcionavam como uma camada grossa de Fuzz pra dar textura ao ritmo mais primal das levadas, agora, elas são melodias suaves, completas, bonitas e únicas. Há tantas melodias de guitarra escondidas nesse álbum que cada ouvida vai ser uma experiência diferente”, diz Bruno Soares, guitarrista da banda.

“Me deixa esquecer” traz um refrão marcante com uma letra que gruda fácil na mente e nos prepara pra “Futuros que acabei de escrever”, uma quase balada permeada por ondas suaves de melodias que vão se juntando uma a uma até que a voz entra. “O que o tempo irá contar, chamas duras de apagar, são dois versos que acabei de escrever… depois que tudo passar, há nós dois em algum lugar, são futuros que acabei de prever”. Um olhar pro futuro que talvez seja uma esperança, um acalento, palavras que desembocam em um solo que continua enquanto a música vai sumindo em um fade out suave. “Futuros que acabei de escrever” repete o feito da música anterior e gruda na mente, lembrando bandas como U2 ou mesmo projetos mais atuais como The Midnight.

“Quem se afoga” vem logo em seguida. Talvez a música que mais evidencie a ligação do disco a uma distopia, à nossa distopia. A música fala de política de uma forma mais poética, colocando visões contrastantes frente a frente.

“Nessa música eu queria mostrar como os ideais podem ser opostos dentro de um mesmo acontecimento caótico. Enquanto uns lutam por suas vidas, outros lutam para manter seus lucros, seus luxos e suas vontades. O 'foda-se quem se afoga' é a fala mais arrogante, mais absurda e mais dita (de forma conceitual) por grandes empresários, líderes religiosos e políticos no momento em que mais precisávamos de equilíbrio para termos uma passagem melhor por esse momento. Focados no lucro, o mundo se torna cada vez um lugar mais árido pra nós mesmos”, diz Thiago.

A música que dá nome ao álbum, “Ideal” surge em seguida. Toda a veia industrial da Varney não poderia estar mais evidente do que aqui. “Ideal" é forte, hardcore, suja e melódica ao mesmo tempo. O enigma que começa lá em cima, no começo do álbum, parece falar de uma relação, alguém que aparece em “Futuros que acabei de escrever” e que reaparece aqui. “Ideal” é certamente uma das músicas mais ousadas do cenário nacional do momento, usando elementos não vistos em nenhum outro disco lançado por artistas brasileiros. Toda a distopia sonora da música contrasta com o refrão melódico e toda a loucura da sonoridade das engrenagens girando e dos martelos batendo se suaviza no segundo momento da música em que tudo vira melodia e delicadeza. 

A contração dos músicos de “Ideal” é seguida pelo relaxamento de “Granito”. Quase 7 minutos de música ritmada, marcante, melódica e com uma das letras mais poéticas da Varney. 

“Quando eu iniciei as partes básicas da música, pensei em algo envolvente e limpo. Entreguei a base da música pra Thiago e fomos construindo o que ela veio a se tornar”, diz Bernardo. "Quando escrevi essa música eu estava devorando os poemas de Hilda Hilst. Ficamos semanas compondo sintetizadores e lapidando os timbres até que eu escrevi uma poesia que tinha uma métrica perfeita pra “Granito”. Eu acho que talvez seja uma das músicas mais poéticas em termos de letra desse disco, com um final comovente que eu literalmente não me lembro de ter escrito. É clichê dizer isso, mas essa letra veio de algum lugar e eu só coloquei no papel”, diz Thiago.

Quando “Granito” acaba, nós entendemos que esse suposto relacionamento talvez seja um relacionamento com a idealização da perfeição, e que há uma quebra: “Você se foi, deixou nós dois, só eu e eu”.

“1978” aumenta a curiosidade sobre o que está oculto dentro deste álbum. A Varney agora fala mais ainda desse relacionamento, mas agora de uma forma mais suja, mais carnal e mais realista. Aqui há algo sobre a frustração, sobre o acordar do sonho, talvez uma percepção de que o sonho de um futuro mais leve de “Futuros que acabei de escrever” seja na verdade uma grande mentira. A vida precisa ser vivida mesmo que seja imperfeita, mesmo que seja em meio ao caos, mesmo que seja permeada de frustrações.

“Páginas em branco” fecha o álbum. Uma canção de despedida, como a que Varney sempre gosta de fazer ao fim de cada disco. É interessante perceber que o que dá o ritmo dessa música é um som robótico ao fundo, máquinas trabalhando, algo sintético. Uma música que vai crescendo até chegar ao refrão onde brotam pianos, guitarras e a sonoridade é bem mais dramática. “Me restaram eu e meu vazio esperando o dia de você voltar”. Há uma sensação de solidão na música, uma ausência de alguém (ou algo) que se foi. Mesmo assim, “Páginas em Branco” traz no fundo alguma esperança de reconstrução. Os aplausos no meio da música fazem com que o mesmo refrão, quando repetido pela segunda vez, já seja sentido diferente, com mais esperança. “Eu uso o meu tempo compondo lembranças” é uma das frases mais fortes do álbum, mostrando o quanto cada um de nós vive mergulhado em idealizações do passado e esperanças do futuro.


“Ideal” talvez seja um álbum pra quem tem a cabeça de sonhador entender que os pés precisam estar no chão, no aqui e no agora. E a Varney está aqui.


Fonte:Na Beira Do Palco
 
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